RECÉM-NASCIDOS DE BAIXO PESO,

Diagnóstico de Situação dos Recém-nascidos de baixo peso no ACES Porto Oriental

 A Organização Mundial de Saúde (OMS) refere que o baixo peso ao nascer (BPN) é um importante preditor da saúde e da sobrevivência neonatais. De facto, estão descritas inúmeras implicações do BPN, não apenas nos primeiros momentos da vida do recém-nascido (RN), mas também ao longo da infância e também na idade adulta.

O BPN é determinado por diversos fatores que se interrelacionam e são, muitas vezes, complexos. Estes têm origem em aspetos sociais, biológicos e ambientais e, por isso torna-se imperativo que se identifiquem e se atue sobre as variáveis que contribuem para o problema.
Pode-se mesmo sistematizar que o BPN seja causado ora pela duração da gestação, ora pela taxa de crescimento fetal.

Em Portugal tem-se constatado taxas de RNBP de tendência crescente: 7,2% em 2001 e de 8,2% em 2009. As regiões do Algarve e Alentejo, com taxas de 8,6% e 8,8%, respetivamente, são as que apresentam valores mais elevados. No Porto, em 2007 verificava-se uma taxa de RNBP de
8,3%. Reportando-nos ao ACES Porto, é referido no diagnóstico de situação de 2012 um aumento do número de recém-nascidos de termo com baixo peso, sendo os valores superiores aos da Região Norte e Continente.

Com o propósito de identificar necessidades em saúde relacionadas com fatores de risco de BPN no ACES Porto Oriental foi realizado o Diagnóstico de Situação dos recém-nascidos de baixo peso nascidos no ano de 2013 neste mesmo ACES.

Desta forma, foi efetuado um estudo observacional, descritivo e transversal no ACES Porto Oriental. Os dados relativos RN nascidos no ano 2013 foram rececionados e fornecidos pela USP, por meio do acesso às notícias de nascimento enviadas informaticamente pelos serviços hospitalares (Centro Hospitalar do Porto, EPE; Hospital São João do Porto, EPE e Unidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE.). Totalizaram 436 RN nascidos e dois nados-mortos entre 1 de Janeiro e 31 de Dezembro de 2013. Foi selecionada a amostra da população de recém-nascidos de baixo peso (RNBP), perfazendo um total de 32 mulheres.

Elaborou-se e aplicou-se instrumento de colheita de dados às mães dos RNBP da amostra, obtendo junto destas o consentimento informado para o estudo. Realizou-se análise estatística com recurso ao programa SPSS, versão 20, com base em estatística descritiva.

As mulheres com RNBP tinham média de idade de 30,28±8,1 anos, 56,3% era casada e 56,3% estava desempregada. Do total da amostra, 46,9% têm escolaridade até ao 12º ano. Quanto à situação profissional, verifica-se que 31,3% da amostra são trabalhadores não qualificados; de seguida, com 21,9% (n=7) estão os especialistas em atividades intelectuais e científicas.

Relativamente aos antecedentes obstétricos, a maioria, isto é, 71,9% (n=23) era nulípara antes da gravidez em estudo e 12,5% (n=4) já haviam tido um parto pré-termo.

Relativamente à idade gestacional, constatou-se que a maioria (71% das gravidezes) resultou em parto pré-termo (antes das 37 semanas de gestação). Quanto ao tipo de parto, 59,38% nasceram por parto distócico; destes, 59,38% (n=19) foram cesarianas; 9,38% (n=3) por fórceps e também 9,38% (n=3) por ventosa.

No que diz respeito ao planeamento da gravidez, salientam-se os seguintes dados: 31,3% (n=10) das mulheres referiu que a gravidez não foi desejada pelo casal, 65,6% (n=21) não tiveram consulta de preconceção e 71,9% (n=23) não iniciaram a toma de ácido fólico antes da gravidez.

Por seu turno, em relação à vigilância da gravidez destaca-se: das 10 mulheres com vacina do tétano desatualizada, 96,9% (n=9) não atualizaram a vacina Td na gravidez; 21,9% (n=7) da amostra teve menos de seis consultas de enfermagem e 9,8% (n=3) teve menos de seis consultas  édicas (no
total de consultas realizadas, independentemente do local onde ocorreram). A maioria das gravidezes, isto é, 53,1% (n=17) foi vigiada a nível hospitalar. Verificou-se ainda que 75% (n=24) não frequentou o curso de preparação para o parto e 65,6% (n=21) não usufruíram do cheque-dentista (enquanto 3,1% (n=1) não sabia da sua existência).

No que concerne a doenças diagnosticadas no decorrer da gravidez, salienta-se que 18,8% (n=6) tiveram diabetes gestacional, 15,6% (n=5) foram diagnosticadas com doença renal, 12,5% (n=4) com ITU e 9,4% (n=3) com pré-eclâmpsia. Da mesma forma, 40,65% das mulheres (n=13) referiram algum tipo de acontecimento que consideraram marcante na gravidez (podendo condicionar elevados níveis de stress).

Em relação à evolução ponderal na gravidez, a média foi de 12,25±5,8Kg, com amplitude de 29Kg (evolução mínima de -4Kg e máxima de 25Kg).

Relativamente ao uso de tabaco na gravidez, conclui-se que 34,4% (n=10) das mulheres da amostra é fumadora e apenas uma mulher deixou de fumar na gravidez.

Em média, os RN tinham 2000±453,8gr. Do total de RNBP da amostra, 53,1% (n=17) são do sexo feminino e 46,9% (n=15) do sexo masculino. Através do cruzamento de dados entre a idade gestacional e o peso do RN, conclui-se que destes, a maioria teve restrição de crescimento ntrauterino, uma vez que 53,1% (n=17) são Pequenos para a Idade Gestacional (PIG).

Em conclusão, foram identificados 19 problemas, dos quais, após priorização pelo método de comparação de pares, se destacam:gravidezes não planeadas, desatualização do estado vacinal, menos de seis consultas médicas/enfermagem, não frequência do curso de preparação para o parto, não usufruírem do cheque-dentista e, o problema considerado prioritário, a elevada percentagem de fumadoras.

Não apenas pela elevada incidência de RNBP no ACES Porto Oriental, mas também pelas graves implicações do BPN e pela sua causalidade complexa e multifactorial, desde o início se tornou claro que esta questão carece de uma atenção especial de todos os profissionais de saúde do
ACES Porto Oriental e evidencia-se a necessidade de sensibilizar todos para o problema do baixo peso e delinear estratégias de intervenção que conduzam a uma redução do número de RN com BPN nos seus utentes.

Cátia Pitoco | Raquel Santos | Rosa Santos